segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ceptro

A manhã começou cedo por entre papelinhos com diferentes tarefas, que espalharam sorrisos durante todo o dia. Desde 'cafunés', gritos e abraços estonteantes, os papelinhos fizeram-se valer pela vontade da família que se estava a formar.
Ansiosos pelo primeiro dia de serviço no centro, e distribuídos por tarefas distintas, o nosso grupo demonstrou o perfeccionismo e o 'desenrrasque' típico da génese lusitana.

Entre caminhos, pinturas e voltas com material, foi necessário atribuir mais tarefas ao nosso grupo além das que estavam delineadas. Nos coffee breaks, sempre com boa disposição, trocaram-se histórias e peripécias de cada grupo, ainda com algum espaço para descobrir a magia das diferenças culturais com os elementos do Staff.


Esta partilha de experiências não se sentia só durante as jornadas de trabalho, como também à mesa. Entre sopas coloridas e pratos estranhos, saboreávamos aquele momento de descanso debatendo os mais diversos assuntos. Seguia-se sempre o momento na nossa mini-cozinha, onde matávamos saudades da fragrância e sabor do café ao estilo português.
A jornada de trabalho era retomada, fizesse chuva ou sol o espírito de trabalho dos grupos mantinha-se, ao ponto de abdicarem do coffee break da tarde para dar por terminada a tarefa que lhes foi concedida.

Depois do jantar, fomos brindados com uma visita a cada parte do centro. Da cozinha, à lavandaria...ao cantinho dos pinkies... e posteriormente guiados por tochas, visitámos os bosques que abraçam o centro... do Kander-Lodge, ao Memorial Rock, ao B.P. campfire, à Torre... ao Campfire Circle...


Em crescendo, na bruma da noite, foi-se ouvindo uma melodia... e aos poucos foram-se vislumbrando pontinhos de luz aqui e acolá. Em jeito de convite, fomo-nos descalçando e sentando nas mantas já expostas na Frack Haus, último ponto de visita...havia algo diferente à nossa espera.

Tínhamos rumado de barco até este mundo mágico, tinham-nos sido instituídos os símbolos desta viagem, faltava agora nos comprometermos com este projecto.
Do silêncio surgiu o Max que nos foi retirando os lenços colocando-os em círculo, formando cada um de deles um raio solar, que aqueceu aquele espaço. Pelo dom selvagem desta mesma personagem, fomos investidos reis feiticeiros deste novo mundo.

Lentamente, cada um abriu a sua caixa do tempo, e deixou sair a sua linha de vida, que juntamente com o ceptro mágico, fizeram com que o pequeno sol daquele espaço subisse e descesse como se de magia se tratasse. Nem só o sol subiu, e do fundo do nosso âmago emergiram gotas de água, que transpareceram toda a autenticidade do momento.


Entre cânticos emocionados, foi o momento de revermos cada um dos nossos percursos, cada uma das nossas escolhas, quer por águas calmas, quer por correntes sinuosas... foi o momento de relembrarmos quem não pôde estar ali connosco, quem nos fez chegar até ali, e de percebermos que mesmo imperfeitos, juntos valemos mais. Foi de facto um momento mágico onde ficámos de facto ligados por um mesmo sentimento:  fazer mais.
Assim como em família, cuidamos dos nossos iguais, também nós rumámos de novo ao Challet com algo no peito que não era nosso, mas com a certeza que seria tratado como se fosse nosso até à manhã seguinte.


Esta seria uma noite calma com o coração repleto desta magia. 



domingo, 29 de setembro de 2013

Sol


Depois de uma noite de descanso ainda insuficiente para recuperar do cansaço da viagem, o nosso dia começou pouco depois das 4 horas da manhã (hora suíça), com um despertar diferente  na presença de animais selvagens.
Saímos então para iniciar o percurso por trilho até ao lago Oeschinensee, a 1600 metros de altitude.
O percurso foi feito ainda durante a noite, por isso não nos apercebemos da paisagem que nos rodeava. Chegados ao nosso destino, tivemos oportunidade de assistir a um amanhecer de crescente luminosidade. O tempo nublado não permitiu ver uma alvorada límpida, contudo não ficámos desiludidos: a superfície azul do lago ondulava calmamente, refletindo o gradual aclarar do dia, envolto pelo recorte das montanhas que se iam definindo: alguns dos cumes repletos de flocos de algodão e todas as encostas  preenchidas de árvores frescas. Ficámos maravilhados com aquela paisagem  e prolongámos o momento de apreciação.
Mas este Sol, ainda que encoberto e sempre em risco de deixar de existir, trazia consigo uma luz que iluminava o barco em que Max, sem saber, se propusera a uma redescoberta de si mesmo. Tal como Max, também nós fomos levados a construir o nosso próprio barco e a colocar nele as nossas propostas de renovação.



De seguida, fomos tomar uma bebida quente e retomámos a caminhada para ir visitar a entrada do teleférico e conhecermos um pouco melhor os trilhos da área, iniciando a nossa descida de regresso ao KISC para o almoço.
Pegámos nas nossas mochilas e decidimos ir ao centro de Kandersteg a pé e por outro caminho, aproveitando assim as maravilhosas vistas que servem de cenário de fundo da acolhedora vila.
Voltámos para o KISC e após algum descanso, jantámos.
Seguiu-se um serão com os Pinkies para o qual preparámos uma apresentação cheia de música e energia e lá fomos, deixando os Pinkies completamente espantados.
Quando os Pinkies cederam ao cansaço, passámos ao nosso momento final do dia: o visionamento da primeira parte do filme que deu origem ao nosso incrível imaginário "Where the Wild Things Are", deixou-se o momento de reflexão do dia sobre a renovação pessoal. E com isto demos por terminado o nosso dia. Amanhã espera-nos o primeiro dia de trabalho a sério!

sábado, 28 de setembro de 2013

A Grande Viagem

Desatracámos o 1º barco da Junta Central, em Lisboa, com seis participantes e o nosso condutor privado a bordo. Rumamos em direcção a Norte ao encontro dos restantes participantes, por mares não tão tumultuosos quanto esperávamos. 
Em Santarém apanhámos mais dois aventureiros, que se juntaram a nós com toda a alegria. Na cidade de Leiria aguardavam-nos dois elementos e o 2º barco. Durante as 34 horas que se seguiam esses seriam os nossos albergues. De Coimbra saltaram para bordo dois malucos com a energia necessária para animar o pessoal. 112 km mais a Norte, no Porto, esperava-nos mais uma aventureira. 
Em Braga reúnimo-nos com os dois elementos que faltavam para preencher o nosso divertido grupo, onde oficializámos o começo da nossa viagem com um momento de reflexão e introdução ao nosso imaginário, "Where The Wild Things Are".



Ao longo desta nossa pequena viagem de recolha encontrámos três selvagens já veteranos nestas andanças internacionais, que nos deram umas últimas dicas e de quem nos despedimos agradecendo a sua ajuda. 
Começava agora a nossa aventura, finalmente todos juntos! Partimos de Braga para o que seria uma viagem quase non-stop. A nossa primeira paragem foi em Chaves onde aproveitámos para jantar e reforçar as energias para a longa viagem que tínhamos em frente, antes de sairmos de terras lusas, deixando para trás as nossas zonas de conforto, comprometidos com o desafio de uma nova descoberta do Mundo e de nós mesmos. 
Atravessada a fronteira exercitámos o nosso espanhol, visto que durante as 8 horas seguintes andaríamos por terras do rei Juan Carlos. A viagem seguiu-se animada e sem contratempos, entre conversas, sonecas e muitos cânticos.


Após uma quantidade infindável de túneis avistámos a fronteira francesa, onde preparámos o "Bon Jour", o "Merci" e o "Ça va", para nos sentirmos mais em casa. Prados verdes e amarelos estendiam-se nos flancos da auto-estrada que percorríamos enquanto a nossa ansiedade se acentuava à medida que os quilómetros no GPS diminuíam. França parecia nunca mais acabar! 
Quando o condutor finalmente disse: "ali está a fronteira", os nossos corações dispararam, já só faltavam à volta de 200 km. À medida que nos aproximávamos do nosso destino e a noite caía, os nossos corações a palpitar acompanhavam a nossa cara de miúdos numa banca de doces ao avistarmos a estupenda arquitectura característica daquela região e as imponentes sombras escuras que se erguiam até aos céus. 
Quatro países e 2400 quilómetros depois, viemos descobrir nos recantos escondidos dos Alpes Suíços o paraíso escutista, o Kandersteg International Scout Centre - KISC. Nenhuma das 1001 fotos fazia justiça à beleza e grandiosidade da vista que emergia diante dos nossos olhos. Iluminado pelas luzes exteriores, no meio de uma imensa escuridão, o chalet que seria a nossa casa durante a próxima semana erguia-se magnífico. Uma visão do céu! 
No KISC encontrámos o local ideal para soltarmos o nosso lado mais wild partilhando-o com companheiros de viagem selvagens cujas vidas se cruzaram para viver este sonho. 
Mal podemos esperar pelo dia de amanhã!